Por Pe. Ferdinando Mancílio C.Ss.R.
O velho ditado latino traz uma grande verdade para nós. Acho que você concorda que, em nossos dias, há um culto sobre o corpo. Com facilidade vemos as academias cheias de pessoas se exercitando, outras caminhando pelas ruas e parques. Há o desejo escondido de um belo corpo e de uma boa saúde. As duas coisas são legítimas e saudáveis.
Talvez nossa dificuldade seja cuidar do espírito como cuidamos do corpo. Na verdade, uma realidade não está separada da outra. As duas devem caminhar juntas, melhor ainda, devem ter uma só unidade. Corpo e alma ou corpo e espírito não devem estar separados. Cuidar bem tanto do corpo como do espírito é importante para nosso equilíbrio humano. Separar um do outro é prejuízo para nós mesmos.
Compreender a necessidade desse equilíbrio é elevar-se à dignidade humana em que fomos criados. Deus nos fez por inteiro e não por partes. Nós é que fragmentamos a nós mesmos, nos dividimos e por isso sofremos por nossa própria falta de equilíbrio na compreensão de nossa existência. Ter um corpo sadio e um espírito elevado é estar pronto para abraçar os mais nobres ideais desta vida.
Jesus nos dá uma grande lição. Seu evangelho está carregado de gestos, palavras e atitudes que integram as pessoas. Ele é, de fato, o médico divino que se deixa tocar por nossas fragilidades. Tomando o exemplo do Bom Samaritano (Lc 10,33-37), o amor dele é exaltado por Jesus, é a figura do próprio Cristo voltado para a dor alheia, para a desintegração da pessoa, para sua fragmentação. Por isso, o evangelho nos dá a fartura de exemplos de amor misericordioso de Jesus, que reintegra as pessoas. Devolve-lhes a harmonia. Elas experimentam de novo a liberdade e a paz. O que significa isso? Significa que a ascese do amor nos edifica, e nos faz cuidar do corpo até do irmão mais ferido. Foi o que Jesus fez e nos ensinou a fazer: Amor a Deus e amor ao irmão.
Nós saímos de Deus como uma unidade viva de corpo e de alma, e dele mesmo recebemos a tarefa de crescer nessa unidade, e não de separar as coisas. Cuidar dessa unidade, como devemos cuidar de tantas obrigações e deveres, é imprescindível.
Você sabia que São Bento, ao fundar os mosteiros, não queria em suas regras nada que não fosse capaz de suportar? E que São Francisco pediu perdão pelo excesso de penitência que tinha imposto a seu corpo? Compreendamos, pois, que não se trata de busca desenfreada de prazeres, mas de equilíbrio sadio entre corpo e espírito, liberdade e dignidade, entre alegria e dom.
Assim, nada nos poderá ferir, dominar ou perturbar nossa vida, se nos educarmos interiormente. Será bom se você reprojetar sua vida a partir da harmonia e do equilíbrio que devem existir em sua vida. Que tal um pouco mais de mens sana para que nosso corpo e espírito sejam, de fato, sadios?
Matéria publicada na Revista de Aparecida, edição Fevereiro 2012.